quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Chorar"

As pessoas de duas caras

quarta-feira - 14/outubro/2010
Eu gostaria de ter duas caras, como têm algumas pessoas. Duas caras. Uma que eu mostrasse e outra que eu pudesse esconder. Duas caras. Eu gostaria de ter duas caras. Na verdade, eu não gostaria não. Isso é só para pessoas circunstanciais. É horrível ter duas caras. Ter duas posturas. Ter dois discursos. Tudo duplo, o que é verdade e aquela outra coisa que na verdade não existe. Uma cara boazinha, sorridente, feliz, e aquela outra cara verdadeira, aquela que existe mesmo, aquela cara que mostra o que de fato é uma pessoa. Eu não gostaria de ter duas caras. Eu nunca terei duas caras. Eu sempre terei um só destino. Eu sempre terei uma só palavra. Eu sempre terei meu único eu. Conheço muitas pessoas que têm duas caras. Às vezes três. Às vezes quatro. Às vezes cinco. Às vezes dez. Uma porção de caras, uma para cada platéia. Um discurso para cada platéia. As pessoas de duas caras estão por aí mostrando a cara boa, só aquela cara boa, que engana. Eu não gostaria de ter duas caras. O Brasil, por exemplo, tem muitas caras. Eu já aprendi a conhecer bem essa cara sorridente. Eu já aprendi a conhecer bem essa cara que engana. A mim não engana essa cara sorridente. A mim não engana essa cara que só engana. Essa cara construída somente para mentir. Eu cansei das pessoas de duas caras. Não dá mais para engolir quem tem duas caras. Não dá mais. Por isso, mais uma vez, recorro à minha fada de Lisboa, na tentativa de ainda poder viver um pouco mais. Sei que continuo sonhando o sonho de poder ainda sonhar. A possibilidade do sonho. Continuo a andar de mãos dadas com a fada que me faz ainda sentir e às vezes chorar. Eu continuo. É minha maneira de ser.

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